23 setembro 2008

Famílias pagam 12% do Ensino Superior


Financiamento assegurado pelos estudantes e respectivas famílias triplicou em 12 anos


No ano passado, os estudantes suportaram 12% dos custos totais do Ensino Superior público. Em 1995, apenas pagavam 4%. No total, os privados são responsáveis pelo financiamento de um quinto das despesas do Superior.
Em 12 anos, o montante pago pelos estudantes do superior e as suas famílias triplicou. Segundo um documento do Governo a que o JN teve acesso, o Estado suporta 80% das despesas com a educação universitária e politécnica. Os restantes 20% são assegurados pelos privados e pelos estudantes, sendo que os primeiros contribuem com 8% e os segundos com 12% do total dispendido.
Ora, comparando estes dados com os números da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) constata-se que em pouco mais de dez anos o valor pago pelos estudantes mais que triplicou. Em 1995, os alunos e as suas famílias apenas eram responsáveis por cerca de 3,5% do total das despesas do Ensino Superior. Em 2004 este valor era ainda maior: 14%.
O aumento é explicado, em parte pelo crescimento do número de alunos. Segundo a OCDE, de 1995 até 2004, verificou-se os alunos inscritos no Ensino Superior Público aumentaram 46%. Porém, no mesmo período de tempo, o financiamento só aumentou 28%.
Ainda de acordo com a mesma organização, em 2004, Portugal gastou cerca de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) no Ensino Superior, um ligeiro aumento dos 0,9% dispendidos em 1995. A média de investimento dos países da OCDE na educação superior é mis alta: 1,4%. No total, Portugal gasta 5,4% do PIB em Educação. Ou seja, 4,4% são destinados para o ensino não superior enquanto que, como já se referiu, as universidades e politécnicos apenas têm ao seu dispor 1% da riqueza produzida anualmente em Portugal.
As despesas com a Educação são um grande encargo para as famílias portuguesas que cada vez gastam mais neste departamento. Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística, cada agregado familiar gasta, em média, 1,7% dos seus rendimentos enquanto que, em 1994 apenas gastava 1,3%. E, se olharmos para as famílias com crianças e jovens dependentes, este valor sobe para 2,6%. Em média, cada agregado gasta anualmente 301€ por ano em educação, sendo que 126€ são gastos no Ensino Superior.
Propinas com limite
Todos os anos, o valor máximo das propinas é revisto tendo em conta o Índice de Preços no Consumidor, excepto a habitação. Para o corrente ano, o valor máximo é de 972,14€.
Mais de 120 euros anuais
Em média, cada agregado familiar português gasta 126 euros em despesas com o Ensino Superior. Para toda a educação, cada família gasta 301 euros anuais.
Em 2005, o Orçamento de Estado dedicou ao Ensino Superior 2,1% das verbas. Em toda a Educação gastaram-se 11,4%. Em 2000 tinham-se gasto 12,6%.
Um quinto das despesas com o Ensino Superior são suportadas por entidades privadas (8%) e pelos estudantes (12%).

Universidade de Lisboa acusa governo de "comercialização do ensino"

O Senado da Universidade de Lisboa aprovou uma deliberação em que acusa o governo de colocá-la "numa situação dramática" com a diminuição de 25% das verbas transferidas desde 2005. E as "consequências quanto à qualidade do ensino, ao desenvolvimento de políticas estratégicas, aos recursos humanos e ao âmbito da sua actividade são facilmente previsíveis", diz o órgão máximo da Universidade.

"A maneira como o Governo condiciona a vida das universidades, sugerindo-lhes práticas desresponsabilizantes de sub-orçamentação ou, pior ainda, obrigando-as a medidas de 'comercialização' do ensino e de desqualificação do seu corpo docente não auguram nada de positivo para os próximos tempos", alerta a deliberação aprovada na reunião de 11 de Setembro.A Universidade de Lisboa viu a dotação de verbas subir abaixo do nível da inflação no Orçamento para o próximo ano, sendo uma das cinco instituições com menor aumento de verbas. "É suficientemente esclarecedor das opções tomadas pelo Governo, que prejudicam fortemente as principais universidades portuguesas, retirando-lhes condições para prosseguirem uma política de afirmação científica e pedagógica no plano internacional", diz o texto aprovado pelo Senado da UL.Em 2008, a soma das receitas das propinas com as verbas transferidas pelo Estado deu 103 milhões de euros, o que não deu sequer para cobrir os 109 milhões das despesas com o pessoal. "Entre as duas verbas há um défice anual de seis milhões que tem de ser compensado com outras receitas próprias (contratos, investigação) e com recurso a saldos, a partir de agora inexistentes. O orçamento global é praticamente esgotado com despesas fixas de pessoal. Não há qualquer instituição, universitária ou outra, que possa ser governada e gerida nestas condições", diz o Senado da UL. "No mesmo momento em que toma esta decisão, o Senado alerta para as consequências gravosas desta situação para a autonomia da Universidade e para o cumprimento da sua missão", conclui o texto aprovado.