11 dezembro 2007

Biblioteca do ICS não vai reabrir

A biblioteca do Instituto de Ciências Socias (ICS), encerrada durante o último ano lectivo, vai continuar fechada, segundo a decisão tomada pelo Conselho do ICS, na passada semana. Segundo o presidente do Instituto e docente da Universidade do Minho (UM) Moisés Martins, “a biblioteca não vai abrir mais, pois não há condições para a sustentar”.

A última funcionária da biblioteca do ICS reformou-se no passado ano lectivo, deixando o espaço sem responsável. O Reitor da UM, Guimarães Rodrigues, rejeitou a proposta apresentada pelo presidente do instituto, que apelava à substituição da antiga funcionária. O ICS não dispõe de verbas suficientes para contratar novos elementos, o que faz com que qualquer funcionário ou docente que saia do instituto “não possa ser substituído”, revela o Moisés Martins.
O orçamento da UM diminuiu, o que levou à redução das verbas destinadas às escolas da academia minhota. Para resolver este problema, Guimarães Rodrigues foi retirar às escolas verbas próprias, que não poderão ser repostas. “O ICS já não tem verbas próprias, porque entrou no orçamento geral para repôr o nivel do orçamento que a academia necessitava para pagar a funcionários e docentes”, explica o responsável.
“Retiraram-nos as verbas que foram acumuladas ao longo dos últimos trinta anos”, lamenta Moisés Martins, acrescentando que “estas verbas eram necessárias para resolver situações como esta”. A ausência de verbas próprias impossibilita a contratação de novos funcionários e docentes, pois o ICS “está sem dinheiro”, afirma Martins.
Torna-se, assim, difícil encontrar alguém na UM que possa assegurar o posto na biblioteca do ICS, pois não é permitido contratar um funcionário através de concursos externos. A biblioteca não dispõe de pessoal com uma formação adequada para responder às necessidades dos estudantes.
Rejeitada ideia de manter biblioteca com ajuda de estudantes
Entregar a responsabilidade da biblioteca do ICS aos estudantes é outra proposta com a qual Moisés Martins discorda, pois considera que estes não dispõem de qualquer tipo de formação para assegurar o bom funcionamente do espaço. “Não é só uma questão de assegurar uma presença, é preciso ter um conhecimento mais vasto”, indica, para depois completar: “trabalhar numa biblioteca é diferente de ir para um bar servir cafés”.

Houve uma fase de experimentação na qual, durante dois meses, dois alunos trabalharam na biblioteca do ICS, tentando prestar os mesmos serviços anteriormente assegurados. O período de demonstração veio mostrar que aquela “não era a solução adequada”, explica o docente.
Alunos contrariados com a situação
A Presidente do Grupo dos Alunos de Comunicação Social da Universidade do Minho (GACSUM), Cláudia Lomba, espera que a situação da biblioteca esteja a ser resolvida. “A biblioteca tem a bibliografia específica que nos faz muita falta para os trabalhos”, explica.
O GACSUM pensa apresentar uma proposta ao Presidente do ICS, em que alunos do núcleo ficariam na biblioteca. A aluna revela que todos os elementos do núcleo concordaram com a proposta, como uma espécie de “sacrifício para o bem geral”. O grupo pensa entrar ainda em contacto com os outros núcleos do instituto, para que também participem na iniciativa.
Cláudia Lomba percebe que a situação não seja simples porque é “necessário manter os serviços mínimos da biblioteca”. A estudante aguarda uma decisão por parte do instituto para que o material fique disponível ou no ICS, ou na Biblioteca Geral. “Não pode continuar assim, com o material fechado”, conclui.
O aluno do 1º ano de Arqueologia, Filipe Gueussier, tem a mesma opinião: tem sentido dificuldades em consultar a bibliografia da biblioteca do ICS. “As universidades devem promover o máximo de informação e conhecimento, o que não está a ser feito”, denuncia.
Para o aluno do 3º ano de Sociologia Adriano Campos, o encerramento tão prolongado da biblioteca não faz sentido. “O encerramento é mau para os alunos, para os professores e para a comunidade académica”, explica. O estudante acredita que o principal problema é o “individualismo sufocante” que existe na UMinho. “Nenhum problema é colectivo, é de cada aluno ou de cada escola”, critica.
Alunos e ICS de acordo: encerramento da biblioteca é lamentável
O aluno lamenta a situação, pois acredita que a biblioteca era “um espaço de excelência”, e tem sentido dificuldades na procura de bibliografia mais específica, como monografias de estágio e revistas de Sociologia. “É tudo uma questão de prioridades, faltam verbas para pagar uma funcionária, mas temos dinheiro para construir campos de golfe”, explica. Face à situação, Adriano Campos pensa que os alunos devem reivindicar os seus direitos: “deveriam cobrar os seus directores de cursos, os seus delegados de ano, a AAUM e a reitoria”.
Moisés Martins mostra-se insatisfeito com a situação, admitindo que “o instituto também está muito descontente com o modo como muitas coisas são tratadas na UM”. “Esta é a única saída, pois foi algo que nos foi imposto quando não houve mais nenhuma alternativa”, afiança o Presidente do ICS, mostrando-se solidário com o descontentamento dos alunos. “É uma situação triste, pois a biblioteca é o coração de um instituto”, conclui.

10/12/07Sylvie Oliveira em O COMUM-ONLINE

Sem comentários: